15 de dez. de 2015

Ensandecer





Certa vez quando estava lendo sobre Osvaldo Montenegro, ele citou que havia feito de sua casa seu “hospício particular” para não enlouquecer de vez, isso após ser diagnosticado por um grupo de especialistas sobre sua “doença mental”, acho que era algum retardo ou algo do tipo. Adorei a expressão, na realidade achei genial, o que me fez pensar que todos nós criamos quer seja no nosso mundo externo ou interno, esse “hospício particular”. Acredito que o meu anda sendo meu quarto, livros espalhados, minha desorganização, minhas letras, a janela que me faz ver aquela que todas as noites me acompanha, a música, e um monte de ideias que nem sempre segue um padrão.
Lembro que ao ler pensei, “os gênios são loucos”! E o que seria do mundo sem os loucos? Um lugar absolutamente previsível, sem cores, sem sensibilidade, e pela primeira vez, talvez, tenha me sentido feliz por não ser normal. Longe da genialidade, parceira da loucura, longe também dessa monotonia sem sentido que exige um padrão, regras e uma rigidez que não faz parte de mim. Minha alma se diluiria junto a tudo isso.
Não sei ao certo como me portar em algumas situações, com algumas escolhas que hoje percebo terem me escolhido. É como ser personagem de algo ou algo do sonho/pesadelo de alguém e por vezes não tenho certeza se o curso que acontecem as coisas é de fato o que o dono desse “sonho” havia imaginado. As coisas saem do controle até para os normais.
Gosto quando a madrugada chega porque somente assim, me sinto livre para ser, pensar, sentir como realmente sou... Me vejo com os sonhos que tive, com aqueles que ainda estão no mundo das ideias, e nesses momentos, entre um trago e outro, me sinto bem. Não que eu fume todos os dias, falo dos meus momentos. Cigarro, música, aquela pequena no céu, ideias desordenadas e uma leve solidão. Gosto disso. Embora possa soar estranho.
A anormalidade escolhe, somos apenas a casca. Ela chega se instala, e aqueles que estão fora dizem que é necessário um controle, é necessário algo que possa frear o impulso. Mas se é o impulso que nos faz ser quem somos, se é a falta de normalidade que nos faz vivos, dá para se livrar assim, sem ao menos sentir dor?
Não sei se seguir um padrão é o certo só porque todo mundo faz, ou finge fazer. Sei que certo é se sentir bem independente dos olhares, mesmo que esses olhares te machuquem quando você presta atenção neles.
Dizem que por amor devemos renunciar coisas para que o outro se sinta bem, me pergunto: e quanto aos loucos, quem renunciará a sanidade para que eles (nós) se sintam melhor?
Penso que essa troca nunca existirá, não na mesma proporção, já que não escolhemos, como eles poderão? Creio que ninguém possa.
Desse modo um “hospício particular” é conveniente para ambas as partes. Ensandecemos sem que os outros vejam, e ninguém precisa fazer isso para que nós venhamos a nos sentir menos sozinhos. Hospício particular, soa bem, soa bom. Não acho egoísta. É preciso!

Karlinha Ferreira

8 de dez. de 2015

09-12-2015




Com o tempo aprendi que provar a todo custo que você está certo, pode custar muito. E que isso nem sempre é o mais importante.
Aprendi que não vale a pena a briga, o desgaste, o se fazer entender, principalmente quando se há tanto em jogo.
Sinceridade é uma virtude e sempre será, só há um problema na sinceridade: é que podemos estar sinceramente errados. Mas sei que algumas coisas são difíceis de se superar, são difíceis de conseguir e quando conseguimos, nos sentimos assustados com qualquer coisa que possa fazer com o que conquistamos tão ardentemente seja sabotado, embora isso não seja uma realidade, o pavor nos faz pensar que sim, estamos certo.
A idade me mostrou que o tempo leva tudo, o que a gente quer e o que a gente não quer e que em dado momento, é melhor recuar mesmo estando com a razão do que perder. Só quem conquista determinadas coisas, só quem sente sabe o quão difícil seria está com a razão, certo, e perder. Hoje optei em errar, mesmo conscientemente. Estou verdadeiramente certa nisso.
Quero que as pessoas tenham o que eu aparentemente não estou pronta para administrar. Amor, paixão, durabilidade.
“O que eu desejo a você é que os deuses do amor estejam a te proteger e que o verão do seu sorriso nunca acabe”
Karlinha Ferreira

1 de dez. de 2015

Pensando... Pensando... Pirando...




O medo às vezes tira de nós a possibilidade de vivermos momentos inexplicáveis. Nos preocupamos tanto com a hora certa das coisas, com estar suficientemente bem, que esquecemos que o principal é sentir.
Pode-se construir uma vida com o mínimo de estrutura, mas você nunca poderá amar com o mínimo de sentimento.
Se jogar, saltar, mergulhar na energia que nos envolve, no sentimento que nos paralisa. Aquele friozinho na barriga não será sentindo muitas vezes na vida, sorte daqueles que sentem uma e sabem dar valor.
Se preservar evita sofrimentos, mas também faz das nossas vidas um eterno meio-termo.  Nos preocupamos tanto em nos ferir amanhã, que esquecemos de nos abrir para o mundo hoje.
Se manter na defensiva sem dúvidas faz com que fiquemos sem cicatrizes, mas o que vai nos lembrar que estamos vivos?
Precisamos sentir o coração pulsar mais acelerado, na realidade precisamos aprender a nos abrir para o amor, pensei em quanta gente legal já passou pela minha vida, e pensei também em como deixei esvair pelos meus dedos sendo racional demais, ou “livre” demais quando tudo que eu sentia era medo de me mostrar, me mostrar de verdade, medo talvez da falta de contrapartida, então eu me tornei essa falta.
Tornei-me a pessoa que sabe viver o momento, mas sem expectativas futuras, não nasci para durar, disse tanto isso que em certo momento passei a realmente acreditar que era verdade. Minha verdade!
E as pessoas bacanas se foram, e sempre surgiam outras que estavam realmente dispostas a ter uma vida comigo, a querer isso, algumas delas senti isso tão ardentemente que dava meu jeito de recuar, ou fazia com que elas recuassem, mostrando o pior, ou sendo convincente o suficiente para no final da noite está sozinha novamente.
Com algumas pessoas até insisto, mas quando percebo a seriedade, o confinamento... É involuntário, corro para o sentido contrário.
Descobri ontem que isso não é ter coragem, que não é saber o que se quer da vida, mas apenas medo de me doar de corpo e alma... “Guardei sem perceber o desamor que aprendi vendo os meus pais”.
É preciso dar amor sempre, é preciso se doar independente do que o venha como retorno. É preciso sentir!
Karlinha Ferreira