28 de ago. de 2014

Intolerância


É complicado ser quem você quer ser nos dias de hoje. Tem algo de errado na atmosfera que eu não consigo entender. Algumas pessoas pertencentes a determinadas filosofias e que em geral são minoria, que exigem respeito por ser homoafetivo, feminista, de esquerda (extremista), de direita (extremista), por ser alternativo, curtir uns lances mais naturais como não se depilar, ou ser vegetariano...
O que quero dizer é que essas pessoas que em geral são alvos de preconceitos deveriam por uma questão de empatia, ou por uma questão lógica ser mais tolerantes. Quantas vezes já ouvi de mulheres feministas, ou de uma religião afrodescendente que eu deveria deixar meu cabelo cacheado porque eu sou negra, ok. Eu poderia deixar se eu quisesse como eu já deixei, mas acho que cada um deve usar o estilo, corte de cabelo, o tipo de roupa que gosta, que se sente bem, e não por ser preto ou branco e ter que fazer uso de determinado padrão imposto pela raça. Cadê a liberdade? No entanto quando encontram alguém de cabelo escovado, já saem com aquele discurso, “você está usando um padrão imposto pela mídia, por essa sociedade capitalista onde o único padrão de beleza é aquele imposto pelas atrizes de TV” e aquele bláh, bláh, bláh, sem fim. O pior é que às vezes falam tanto que a pessoa que até certo momento estava se sentindo bem, passa a se sentir mal, só por que um bando de gente que não consegue respeitar a opinião alheia se acha dono da razão.
Outro dia ouvi que eu deveria ser do candomblé por que eu sou negra, porra! Nada contra a religião, tenho enorme respeito pelos diferentes tipos, mas nunca me chamou atenção, há filosofias que simpatizo mais que outras, é uma questão de afinidade e também está ligado ao que se busca. Só os indianos poderão ser budistas ou os japoneses xintoístas? É um pensamento quadrado para quem se acha tão desprendido.
Mulher não pode fazer plástica, todas as pessoas nascem e envelhecem é errado retardar isso, as pessoas tem que se aceitar como são, as mulheres podem ser gordas, esse padrão que vemos hoje número 36 é só uma forma de oprimir as mulheres, “olhem ao redor, a maioria das pessoas estão fora desse padrão”. Concordo que se uma pessoa está “acima” do peso e se sente bem, à vontade para ir numa praia, para se vestir, e que realmente não se importa porque se sente bem assim, desde que não afete a saúde, ótimo! O problema é que a maioria das pessoas que tem esse discurso sobre o padrão de beleza na ponta da língua, sente-se mal quando estão perto de outras mulheres mais magras, ou quando vão a praia, e muitas vezes as pessoas não ligam, mas elas não se sentem bem com o corpo que tem, então porque não ficar de um jeito em que a gente se ame mais? Meu biótipo é igual o do Sid da era do gelo, magra do barrigão, só consigo perder a barriga se parar com a cerveja e perder uns 5kg o que me deixaria muito magra, e não me agrada, eu gosto de esportes e gosto de me sentir bem, quero perder a barriga porque acho bonito, mas isso em mim, porque é uma questão minha. E assim como quem está satisfeito com seu peso a mais, com seu cabelo blackpower, eu também tenho o direito de me sentir bem perdendo o “buchinho” e com o cabelo do jeito que eu escolher, sendo adepta da filosofia religiosa que me aprouver.
E quanto aos homoafetivos que reclamam tanto de homofobia, o mundo tem pessoas heterossexuais também, respeito é bom, mas quem quer ser respeitado deve também respeitar. Isso é uma via de mão-dupla. Não dá pra rotular de gay todo garoto que tem bom gosto musical, nem da pra chamar de lésbica toda garota que curte MPB e joga futsal.
O Brasil é um país laico, democrático, rico em diversidade dos mais diferentes tipos, penso que para ser mais harmônico só precisa que as pessoas aprendam a respeitar as diferenças e que ter um ponto de vista e uma ideologia pela qual pensamos valer a pena lutar é sadio, mas quando essa luta passa a ultrapassar a linha do respeito fazendo com que o outro se sinta mal simplesmente por ter um ponto de vista diferente é agir igual ao opressor que julgam lutar contra todos os dias.

Karlinha Ferreira

27 de ago. de 2014

Ausência

Algumas pessoas me causam uma falta que chega a ser cortante. Entendo, porém que cada um tem seu tempo, suas razões e que preciso (embora doa) administrar as ausências. Sei também que talvez não seja a melhor pessoa do mundo em se fazer entender, sei que nem sempre acerto nas escolhas. Às vezes sou infiel aos meus desejos, mas desejo, sinto falta e choro.
Sou aquilo que posso ser, talvez não da melhor maneira, não tão certa quanto eu supunha, mas na batalha pra evoluir. Ser quem desejo ser...

Karlinha Ferreira

20 de ago. de 2014

Ser Mulher


Fazia tempo que não sentia o peso de ser mulher. Havia esquecido que desde o nascimento somos criadas para nos responsabilizar por dois. Sempre. Se você é casada e se apaixona por alguém fora do casamento, a culpa é sua, porque você é quem tem compromisso e tem que se dar ao respeito, mas se você é solteira e um cara casado se apaixona ou dá em cima de você, você é mulher e tem que se dar ao respeito porque ele é homem e homem é assim, você, mulher vira uma destruidora de lar.
É incrível como ser mulher torna-se pesado. Precisamos nos policiar para não ser vulgar, porque nossa família ensina que quando uma mulher sai de casa vestida de forma “inapropriada” (entenda-se por inapropriado, roupa curta ou transparente, muito apertada ou com decote, resumindo qualquer roupa que cause algum tipo de lascívia) ela está possivelmente “pedindo” para ser desrespeitada, afinal ela saiu de casa “querendo, né?” ninguém que sai de casa assim, se veste pra nada. Mulheres, não precisam se sentir sexy, claro que não, nesse mundinho, elas sempre se vestem pra provocar alguém, para causar incomodo na sociedade decente em que vivemos, mas nunca, jamais elas se vestem para si mesmas.
Por incrível que pareça não levanto bandeiras extremistas do feminismo, pois não confio no tipo de feminismo que foi a mim apresentado nos dias de hoje, porém sou feminista na essência, na luta por querer um mundo com olhares e oportunidades iguais. Não quero ser feminista para dançar funck em uma festa usando vestidinho, mas se eu quiser fazê-lo, quero poder fazer sem riscos de ser desrespeitada por causa da roupa que uso ou música que ouço, também seria bom, receber os mesmos valores e ter o mesmo mérito nas conquistas.
Gente, mulheres podem não querer casar, o casamento não é uma lei, não é uma obrigação, e caras, vocês não estão fazendo favor nenhum para as mulheres que não casaram, dando cantadas pejorativas, e querendo levar a mulher pra cama, se ela quiser ir pra cama com você ela irá, e não fará isso por desespero, pasmem, mas mulheres também gostam de sexo, e querem poder gostar sem rótulos.
É triste, como a atitude alheia faz com que tenhamos nojo da espécie humana, e não falo apenas de homens, mas de gente de forma geral, quando um ser humano faz com que o outro se sinta mal por ser o que é, isso é realmente vergonhoso.
Sou mulher, sou humana, sou gente. Tenho desejos e sonhos, igual a qualquer um. Apesar de ter um rosto lindo, não sou apenas isso. Nem uma vagina que fala.

Karlinha Ferreira