Certa
vez quando estava lendo sobre Osvaldo Montenegro, ele citou que havia feito de
sua casa seu “hospício particular” para não enlouquecer de vez, isso após ser
diagnosticado por um grupo de especialistas sobre sua “doença mental”, acho que
era algum retardo ou algo do tipo. Adorei a expressão, na realidade achei
genial, o que me fez pensar que todos nós criamos quer seja no nosso mundo
externo ou interno, esse “hospício particular”. Acredito que o meu anda sendo
meu quarto, livros espalhados, minha desorganização, minhas letras, a janela
que me faz ver aquela que todas as noites me acompanha, a música, e um monte de
ideias que nem sempre segue um padrão.
Lembro
que ao ler pensei, “os gênios são loucos”! E o que seria do mundo sem os
loucos? Um lugar absolutamente previsível, sem cores, sem sensibilidade, e pela
primeira vez, talvez, tenha me sentido feliz por não ser normal. Longe da
genialidade, parceira da loucura, longe também dessa monotonia sem sentido que
exige um padrão, regras e uma rigidez que não faz parte de mim. Minha alma se
diluiria junto a tudo isso.
Não
sei ao certo como me portar em algumas situações, com algumas escolhas que hoje
percebo terem me escolhido. É como ser personagem de algo ou algo do
sonho/pesadelo de alguém e por vezes não tenho certeza se o curso que acontecem
as coisas é de fato o que o dono desse “sonho” havia imaginado. As coisas saem
do controle até para os normais.
Gosto
quando a madrugada chega porque somente assim, me sinto livre para ser, pensar,
sentir como realmente sou... Me vejo com os sonhos que tive, com aqueles que
ainda estão no mundo das ideias, e nesses momentos, entre um trago e outro, me
sinto bem. Não que eu fume todos os dias, falo dos meus momentos. Cigarro,
música, aquela pequena no céu, ideias desordenadas e uma leve solidão. Gosto
disso. Embora possa soar estranho.
A
anormalidade escolhe, somos apenas a casca. Ela chega se instala, e aqueles que
estão fora dizem que é necessário um controle, é necessário algo que possa
frear o impulso. Mas se é o impulso que nos faz ser quem somos, se é a falta de
normalidade que nos faz vivos, dá para se livrar assim, sem ao menos sentir
dor?
Não
sei se seguir um padrão é o certo só porque todo mundo faz, ou finge fazer. Sei
que certo é se sentir bem independente dos olhares, mesmo que esses olhares te
machuquem quando você presta atenção neles.
Dizem
que por amor devemos renunciar coisas para que o outro se sinta bem, me
pergunto: e quanto aos loucos, quem renunciará a sanidade para que eles (nós) se
sintam melhor?
Penso
que essa troca nunca existirá, não na mesma proporção, já que não escolhemos,
como eles poderão? Creio que ninguém possa.
Desse
modo um “hospício particular” é conveniente para ambas as partes. Ensandecemos
sem que os outros vejam, e ninguém precisa fazer isso para que nós venhamos a
nos sentir menos sozinhos. Hospício particular, soa bem, soa bom. Não acho
egoísta. É preciso!
Karlinha Ferreira